Multidões, presumidamente religiosas, tendo como veículo a palavra fé, vão sendo carreadas, quais fileiras de sonâmbulos inconscientes, para a estranha atmosfera de escuro pesadelo, indo no turbilhão dos acontecimentos, cegas, dormentes, na busca externa de cura das dores vindas das suas imperfeições. Tenham fé! Gritam os que lhes dirigem a fala.
O rótulo religioso individualiza a vestimenta exterior de alguém, mas a fé será patrimônio somente daqueles que a tem instalada em seu mundo intimo como convicção absoluta, dando sentido, em ações espontâneas e não ostentadas, a sua vivência diária.
É indispensável examinar a si mesmo, sair da matéria animal e assenhorar-se do próprio caminho.
É imperioso perguntar a si próprio o que faz por aqui nesse nosso planeta, por quais propósitos vive e a que finalidades sua vida se destina. Tendo a resposta, não dita por outros, mas tão somente vinda da própria consciência, passará, então, saber o que seja fé. Ouça o silêncio.
É necessário nos conscientizarmos com precisão a palavra fé que vem do latim FIDES e pode também ser traduzida por confiança, crença, credibilidade, fidelidade.
A fé exige obra compatível, portanto, vida compatível com os fundamentos da crença. A fé cega, crer por crer, a fé no mito e pelo mito, sem a correspondente vivência, pouco sentido tem. Logo, a razão há de lhe ser companheira.
Vi, pela televisão, uma traficante de drogas, presa em flagrante, dizer ter fé em Deus, que não seria condenada. E, conheci quem se disse ateu, levar, em silêncio, alimentos para carentes, comprados com seu próprio dinheiro.
Nela notamos a fé cega, sem a vivência. Ele possui a fé praticada, não precisa crer. Para o progresso interior somam-se os atos, não a religiosidade ou crença.
A fé é para ser vivida, não para ser cegamente sentida como detentora de poder mágico capaz de realizar prodígios.
Aquele que teve fé e se libertou das drogas, praticou a obra em si próprio, pois se a fé não se somasse a vontade e a persistência dele, ela, a fé, seria como inexistente.
Viver a fé é dedicar-se pelo amor, em qualquer lugar, mesmo que por momentos, a qualquer aspecto de obra sublime, sem se ostentar e dando sabor à própria vida.
Ter fé implica na atitude interior contrária à dúvida. Está intimamente ligada à confiança, consequentemente, ter convicção por conhecê-la na intimidade.
Exemplificando: o torcedor de futebol compra ingresso para o jogo em que seu time participará. Logo, ao adquirir o bilhete ele teve fé de que o jogo se realizaria. No dia e hora marcados para a contenda lá está ele na arquibancada à espera que as equipes entrem em campo. Ainda está tendo fé. Minutos depois a disputa ocorre, os jogadores estão em campo lutando por suas cores e ele assiste. Neste momento ele não tem mais fé, ele tem total, absoluta, completa certeza de que o futebol acontece, logo, para ele é realidade, não apenas crença. É este o estágio que precisamos alcançar nessa vivência temporal em relação ao crer, ou seja, estar convicto pelo saber.
Deus, Jeová, o Altíssimo ou qualquer outro nome que O defina como divindade única, é um só por ser o todo, Ele não é um ser, nem energia ou qualquer outra definição que Lhe dão, pois é indefinível. A Sua faceta que nos é conhecida chama-se amor e a maravilhosa obra Dele é você, sou eu, somos nós. Unidos a Ele, no hábito da fé, pelo bem tudo será possível, não através do querer-palavra, mas por meio do querer-sentimento, do querer-ação.
“A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade” - Carta encíclica Fides et Ratio do Sumo Pontífice João Paulo II.
Se a asa da fé (cega) bater forte, teremos um fanático e se a asa da razão bater mais, eis o materialista.
As duas asas, a da fé e a da razão, terão que bater sincronizadas, em harmonia, completando-se, para que o pássaro voe, portanto, a fé há de ser racional, raciocinada, e, consequentemente produzir frutos.
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