Quando passa

Às vezes, nós pensamos que aquela sensação nunca vai passar. Aquele nó na garganta por ter guardado tantas palavras que deviam ter sido ditas. Aquela agonia de não saber como o outro está ou o que ele está fazendo. Aquele aperto no peito por se sentir tão vazio, que parece que aquele vazio vai tomar conta de nós.

Aí, essa sensação passa. É tão estranho quando passa. Esse vazio se torna um vazio novo, diferente. É o vazio que passou, e você percebeu que não se importa mais tanto assim. A gente acorda e tem a sensação que o dia será realmente bom, e que se encontrar com ele na rua, vai ser a primeira vez que o olho não vai encher de lágrima e o coração não vai pular no peito. Do nada passa, e é estranho quando isso acontece.

Por que é estranho? Porque a gente acha que nunca ia passar. Acha que vai demorar muito, talvez anos. Parece que o nosso foco será para sempre aquela pessoa, que todas as vezes que eu encontrar ele na rua, vamos querer cavar um buraco no chão e nos enterrar. Mas passou. O vazio virou um vazio de saudade.

Uma saudade até que gostosa, mas que persiste e arranca até uns sorrisos com os olhos cheios d’água (não chega a se transformar em choro) quando eu a gente lembra-se de alguma coisa boba que fez ao lado dele. Uma saudade estranha essa. Não é boa, saudade nunca é bom. Mas não é ruim. É um vazio preenchido de saudade, para dar algum conforto nesse coração que despedaçou quando ele se foi.

Um dia a coisa toda muda. Nem o vazio, nem a saudade estão mais lá. Quer dizer, a saudade sempre vai estar, mas não a saudade persistente. Você corta o cabelo, coloca uma música animada, queima tudo que era dele e ainda estava guardado. Parece que a gente se libertou. Que o nó que estava nos prendendo àquela fossa toda, foi desfeito e que, agora, podemos sair correndo por aí e gritando: Eu voltei!

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