Odin – O rei dos deuses

Odin é o deus que mais se destaca no panteão nórdico, por ser o mais poderoso e mais velho. Diversas lendas o coloca em evidência, por isso há um enorme apreço dos nórdicos em relação a esse deus. 

Deus principal do clã dos deuses Æsir, Odin é uma figura complexa e muito poderosa. Era o “Pai Supremo”, chefe dos outros deuses. Deus da sabedoria, da guerra e da morte, e também, em menor escala, da magia, da poesia, da profecia, da vitória e da caça. 

Como Grande senhor da Guerra, recolhia as almas dos mortos em suas cavalgadas noturnas e as encaminhava ao Valhalla. Na verdade, Odin dividia com Freya as almas dos mortos. Metade dos guerreiros ia para cada um após sua morte. 

Os invasores romanos compararam Odin com Mercúrio, por ser o condutor de almas, fazer trapaças e por sua capacidade de metamorfose. Mas além de condutor de almas, ele também escolhia quem morreria e determinava a vitória para os seus protegidos. 

Era representado armado com sua lança mágica, com elmo dourado e o escudo luminoso. Aparecia de maneira inesperada nos campos de batalha, infundindo temor e confiança em seus protegidos, e pânico e desorientação nos inimigos.

Era o Senhor da magia e dos encantamentos rúnicos. E assim ele tinha o poder de “amarrar e soltar”. Ou seja, escolhia que ficaria preso em seus encantamentos e quem ficaria livre para vencer. Também tinha o poder sobre a mente humana, visto na paralisação temporária dos inimigos com as suas “amarras mágicas”. E aparecia aos seus favoritos para dar conselhos de guerra.

Odin possui uma natureza paradoxal e misteriosa. É bem mais complexo que seus correspondentes greco-romanos (Hermes e Mercúrio). Ele traz os paradoxos em si, como: os juramentos e a traição, invencibilidade e determinação da morte, certezas e dúvidas.

Ele constrói a muralha de Asgard para a proteção das divindades, mas perambula por vários meses pelos Nove Mundos, disfarçado de poeta, xamã e guerreiro, para adquirir e repartir conhecimentos e informações. Assim como faziam Hermes grego e Exu africano. 

Odin foi ferido pela lança e enforcado na Árvore do Mundo, a Yggdrasil, por nove dias e nove noites, para que pudesse alcançar a sabedoria e, assim, fosse aceso o fogo sagrado da inspiração. Durante esses nove dias e nove noites não comeu, nem bebeu, e foi açoitado pelo vento, frio e pelas lanças.  

Ficou pendurado e empalado na Árvore do Mundo até que ao chegar à beira da morte e já no êxtase da dor, adquiriu a capacidade de atravessar as fronteiras entre a vida e a morte. Ele se entrega totalmente ao sofrimento e mergulha no mundo de Hel (o inconsciente) e assim acessa os mistérios das runas, que se revelam a ele, levando-o a se soltar da árvore.

Então, ele encontra o mistério do símbolo, que une consciente e inconsciente. A dádiva de Odin para a humanidade é o código do inconsciente. Os símbolos unificadores das runas. Ao entender a magia, o mundo passou a lhe pertencer.

Os sacrifícios sangrentos em honra a Odin, mostram uma crença muito forte no paraíso (Valhala) e na bem-aventurança posterior, já que a vida deles era muito árdua, e em uma forma de viver bastante honrada, pautada pela bravura e coragem, além de um conhecimento e aceitação da morte desconhecidos para o homem moderno. Para eles, morrer com honra valia mais que viver de forma vazia. 

O desejo de todo guerreiro nórdico era morrer no campo de batalha, ser levado pelas Valquírias para o palácio de Odin e ali permanecer, treinando e festejando até a batalha final do Ragnarök. Odin também recebe o nome de “aquele que muda de forma”, se apresentando como um deus tríplice de aspectos múltiplos.  

A estrutura básica de Odin é representada pelas tríades Wodhanaz — Wiljon — Wihaz, Odin — Hoenir — Lodur ou Odin — Vili — Vé, que resumem seus atributos de guerreiro, xamã e psicopompo, ou suas qualidades de inspiração, poder mágico e transformação.

Ao viajar entre os seres humanos, fazia na forma de um homem velho, alto, com um manto e chapéu.

Odin está sempre com os seus dois corvos: Huginn (pensamento) e Muninn (memória). Eles lhe serviam como fonte de informação. Os dois corvos sobrevoam os nove mundos durante o dia, e à noite sussurram aos ouvidos de Odin o que viram e ouviram.  Os corvos representam a capacidade cognitiva do deus, sua inteligência e capacidade de retenção de informações.

Outro animal associado a ele é o cavalo de oito patas, Sleipnir, que era a sua montaria preferida. Ele era o cavalo mais veloz do mundo, capaz de cavalgar em terra, no mar e no ar. Seu nome significa “suave” ou “aquele que plana no ar”, bem como esguio e escorregadio. Ele conseguia transitar até o mundo dos mortos e podia levar o seu cavaleiro até o mundo dos mortos. 

Como arquétipo, Odin difere do deus cristão por se apresentar como um aprendiz e não como um deus. Ele não nasceu onisciente e poderoso, mas foi progredindo e se aperfeiçoando. O que o aproxima mais do ser humano, o torna mais palpável e mais concreto. 

O corvo para a cultura judaico-cristã tem uma conotação negativa de mau agouro, morte e azar. Já nas culturas antigas, o corvo era positivo e associado à luz do sol, ou seja, à consciência e também era considerado mensageiro dos deuses, pois acreditava-se que o corvo tinha poderes proféticos. Na Mitologia grega, era o animal associado ao deus Apolo, deus do Sol, da música, da beleza masculina, entre outros.

Essa mudança ocorreu devido a uma mudança de paradigma na sociedade. A morte não era mal vista nas sociedades antigas, como a nórdica, pelo contrário, eles compreendiam que era algo natural e um rito de passagem da alma para outro plano. O homem moderno não aceita a morte, não tem mais conexão com esse rito. A morte é vista como algo impuro, bem como a putrefação do corpo. Na verdade, o homem moderno não sabe mais lidar com a sua sujeira, com a decrepitude do corpo. 

O mito da autoimolação de Odin se assemelha à imolação do deus grego Dioniso (deus do êxtase, da loucura e da dor). Isso significa que Odin, ensina aos homens a conexão do êxtase e da sabedoria advindos de uma grande dor ou de um grande sacrifício. Significando que encontramos a alegria e a sabedoria após conhecermos a dor. 

O sacrifício de Odin na Árvore do Mundo encontra paralelos no arcano maior do Tarot, “O Enforcado”, e o seu domínio sobre o poder e a magia mostra alguns paralelos com outro arcano, “O Mago”.

Em O Enforcado vemos um homem amarrado pelos pés de cabeça para baixo. Mesmo em meio ao sofrimento e impotência, ele apresenta um ar sereno. Para o homem ocidental é difícil tolerar uma inatividade forçada. Odin se força a ficar parado e sacrifica a ação, o agir e a extroversão. Fica indefeso aos olhos do externo, mas se torna sábio.

O Mago do tarot está associado a Hermes, o deus da inteligência, da magia e das artimanhas. A magia simboliza o poder do homem de domar e afeiçoar a natureza conscientemente, de canalizar-lhe as energias para um emprego criativo. E essa é uma das mensagens de Odin. Os rituais mágicos são formas de transformação da energia psíquica e assim promover o encontro do inconsciente com o consciente, transformando o que era uma possibilidade em força de trabalho.

Além disso, Odin é um deus desprovido da perfeição, diferentemente do deus judaico-cristão. Seus mitos e dos demais deuses descrevem experiências e conquistas inerentes à existência humana. Os deuses nórdicos não eram imortais (tanto que morrem no Ragnarök).

 Ele não nasceu onisciente e poderoso, mas foi se aperfeiçoando e aumentando sua sabedoria e poder, por meio da determinação e sacrifícios. Isso causa estranhamento na mente moderna, que está acostumada a ter uma ideia de divindade perfeita. 

Os povos mais antigos, por estarem mais próximos que nós das torrentes do inconsciente coletivo, compreendiam a necessidade de renovação da divindade de forma instintiva, pois o inconsciente manda mudanças toda hora. A morte dos deuses no Ragnarök é um exemplo disso. Os deuses morrem, mas os filhos deles sobrevivem, criando um novo mundo e um sistema coletivo renovado. 

Apesar da principal característica de Odin ser a sabedoria, trata-se de uma sabedoria desprovida de serenidade e quietude. Havia nele a inquietude e a busca constante de conhecimento. Ou seja, a sabedoria verdadeira é estar sempre em busca de conhecimento e autoaprimoramento.

Para finalizar, Odin personifica o arquétipo universal do xamã. Ele adquiriu essa habilidade ao ficar empalado e transcender a morte na Árvore do Mundo por nove dias. O mergulho no mundo de Hel e a experiência da morte simbólica em busca de conhecimento simboliza o processo de transformação profunda que a consciência humana passa em prol do aumento de consciência.

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