Transferência e o amor na psicanálise

“Transferência é amor” afirma Lacan em uma palestra em 1972, esse discurso como fala do falante é imperativo para o processo analítico. Sim! Amor, amar é uma experiência, atender é uma experiência, cuidar de pessoas e de si mesmo é também um tipo de experiência. Mas, como transferir sem bloqueio o que recebemos do outro? Como interpretar sem vínculos o que o outro teima em gritar para dentro do sujeito?

 

Na transferência temos descrito por Freud : "Se o paciente coloca o analista no lugar do pai (ou da mãe), está também lhe concedendo o poder que o superego exerce sobre o ego, visto que os pais foram, como sabemos , a origem do seu superego. O novo superego dispões agora de uma oportunidade para uma espécie de pós-educação do neurótico" (Freud, 1930, pág. 49).

Creio que aí está a junção que Freud e Lacan afirmam sobre transferência e amor, pois Freud ao escrever sobre transferência tem como essência o “pai e mãe” e Lacan expõe o amor também relacionado com pai e mãe, logo a transferência é amor, significa que repetimos sobre as coisas e as pessoas conforme os “pais” nos ensinaram, isso através da multiforme explicitação da fala do ser falante. Pois somos uma achismo da fala do ser falante e, não um ser falante. 

O Achismo aqui cabe, pois, a descrição de transferência e amor traz em si complexidades e mutações para cada ser humano. O coletivo é apenas para uma avaliação da mais pura premissa do aprendizado da língua. Não uma língua escrita ou falada, mas uma língua no sentido do materno/paterno, sim, o jeito de se falar, escrever e fazer que adquirimos dos nossos pseudos-seres-amados, onde a transferência se manifesta mesmo de forma inteligível e inócuo, mas ao mesmo tempo e simplesmente assertivo e perfeito. A transferência e o amor são formas disformes, são continuidade das descontinuidades, são as perfeições das imperfeições, são as certezas das incertezas, lógicas das ilógicas, seguranças das inseguranças e, assim vai a ambiguidade e ambivalência das formas e formatos da transferência e do amor.

Atender um ser falante requer muito mais de um punhado de conhecimento de técnicas e saberes acadêmicos impostos por professores, mestres e sábios. Atender requer algo sobrenatural que somente entendo a transferência sendo amor se faz possível e adquirível para um simples mortal. É algo além da existência de um conhecer, é no fundo o entendimento pacificado de algo que vem sobreposto muito acima dos signos e que estão muito além dos significados, restando então os significantes que é onde se aloja, com toda a certeza, a transferência e o amor.

Em cada ser falante, onde o sujeito-suposto-saber (Psicanalista) observa uma fala do outro no settings analítico é perceptivo que o inconsciente, que como Lacan observa e escreve, é estruturado como uma linguagem; clamando na transferência a fala, os gestos, os chistes, os atos falhos e os descritivos dos sonhos. É bem aí onde o ambiente do inconsciente se manifesta e aparece interligando as terminações analisáveis, perceptivas e cognitivas daquele que se acha ser e não do ser achado. É uma incumbência do sujeito e do outro as inserções permeáveis que irão gerar em suma possibilidades de entendimento das questões e observações (manifestas), mas que sem a intenção, já tendo a intenção, encontrar o latente vivo na personificação da fala e do falante.

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